Construção de marca pessoal e o sequestro pela audiência | 💌 Desculpa o Flood #4
Enquanto, nos últimos anos, as marcas têm feito um movimento para se humanizar, as pessoas estão indo pelo caminho oposto em busca de "porquês" que são puramente comerciais
Outro dia me deparei com o texto “Os perigos de ser sequestrado pela sua audiência” e fiquei pensando muitos pensamentos. Voltei nele várias vezes. Compartilhei com meu amigo Flávio, do O Mundo que Pertenço.
Assim como eu, Flávio também cria conteúdo sobre viagem. Ele está “viajando a África de carona e compartilhando a bondade que existe no mundo”, como ele mesmo descreve. Essa é a pessoa que ele é, a que escolhe ver a bondade que existe no mundo. Todos os dias sai para a beira da estrada com um sorriso no rosto e uma dose de otimismo para tentar conseguir que alguém o leve para o próximo destino. Certos dias consegue em minutos, em outros leva horas. Enquanto eu geralmente sou movida pela força do ódio, Flávio é pura leveza.
Certo dia, um seguidor resolveu mandar mensagem dizendo que a vida do meu amigo era uma mentira. Que ele parecia estar feliz o tempo todo, sempre sorrindo, que tudo parecia dar sempre certo e isso não era realidade. Depois, em uma enquete no stories, 50% da audiência concordou que a felicidade não parecia verdadeira.
O caminho natural talvez fosse ajustar o tom e pintar a trajetória um pouco mais como o público pedia. Afinal, não é a imagem de uma “vida perfeita” a que ele pretende passar.
O artigo que compartilhei com ele reflete sobre as consequências de constantemente ajustar seu conteúdo de acordo com as demandas da audiência. Analisa como esse processo, que pode parecer só uma decisão de negócio, é muito mais profundo.
“Envolve a substituição gradual e involuntária da identidade de uma pessoa por outra feita sob medida para o público”
Não sei o que você sabe sobre construção de marca (branding, em inglês). Envolve a definição de vários itens, como entender qual o posicionamento de uma empresa, o que ela defende, quais seus valores, como os donos e/ou acionistas gostariam que os clientes a enxergassem. Passa pela escolha imagética de cores, formas, fotos, mensagem, tom de voz e melhores canais de comunicação que se adequem aos objetivos do negócio.
Mas a base dessa construção, que antes se reservava a grandes empresas com grandes orçamentos, passou a ser aplicada para uso pessoal depois que Tom Peters, especialista em gestão de negócios, publicou, em 1997, o artigo "The Brand Called You" (A marca chamada você).
Com o surgimento e a popularização das redes sociais, fazer de si uma marca e gerenciá-la virou não só prático como praticamente mandatório.
Só que há um abismo entre ter uma marca e tentar ser uma.
Nos últimos anos, as marcas têm feito um movimento para se humanizar e as pessoas estão indo pelo caminho oposto.
Depois que o Simon Sinek disse que a melhor forma de criar impacto no mundo era começando pelo porquê, agora além de tentar ser uma marca parece que todo mundo ficou obcecado também em encontrar seu próprio propósito.
Passei muito tempo frustrada por não saber qual era o meu. Até entender que eu não preciso ter um.
Tanto os princípios de uma construção de marca, quanto o porquê de Sinek partem de um lugar puramente comercial.
Quando quem você é começa a se misturar com uma proposta capitalista de como vender mais, fica fácil se perder.
Também fica fácil estagnar. Sentar-se na cadeira da inércia porque você não sabe qual seu propósito, o que a “audiência” quer consumir, qual problema você resolve, como você pode ser útil.
Falamos na edição #2 sobre por que insistimos em transformar a vida em uma coisa útil.
Além disso,
“O desejo de reconhecimento em um mundo cada vez mais pulverizado nos seduz a ser quem estranhos desejam que sejamos”
Se você não sabe, eu crio conteúdo no @caminhodoagora. Poderia dizer que é sobre viagens, mas não é bem sobre isso. Poderia dizer que é sobre modelo de trabalho, mas também não é bem sobre isso. Sobre esportes, turismo, nomadismo, estilo de vida?
Você não tem ideia do tamanho da frustração que me assombra por não conseguir chegar em uma frase sobre o que é que eu falo.
Porque para transformar criação de conteúdo em negócio, é preciso definir um nicho e trabalhar um tema específico.
“Fale sobre o que seu público quer ouvir", disseram absolutamente todas as formações de marketing, branding, produção de conteúdo, criação, planejamento”
É como não conseguir executar o que na teoria eu sei. Logo eu, publicitária.
Aí esse autor vem e me escancara a raiz desse incômodo que ainda não tinha sido capaz de colocar em palavras:
“Desconfio daqueles com marcas fortes e bem delineadas. Os seres humanos são tempestades de idiossincrasias caprichosas e em grande parte não têm forma, de modo que um humano só desenvolve uma identidade clara e distinta através do artifício da performance”
Ele também crava:
“A minha imagem de marca é, reconhecidamente, difusa e fraca.(...)E é assim que eu gosto. Minha imprecisão me torna difícil de classificar, prever e sequestrar”
Então, se posso te fazer uma sugestão: tente colocar suas ideias no mundo e ver se no caminho pessoas interessadas pelos mesmos assuntos te encontram ao invés de ficar tentando atender as demandas alheias.
Seu “porquê” pode ser porque você quer.
👌🏻Mandaram bem
Como a Heinz conseguiu mais de 2 minutos de stories da Gkay (que tem 20M de seguidores no Instagram) e um post em seu feed do Twitter (com 4,6M de seguidores) sem pagar #publi. Sim, você leu certo. Totalmente de graça.
Não tenho palavras, apenas palmas. Leia aqui.
Sabe por que esse caso deu tão certo? Porque não usa o marketing de influência com uma mentalidade de mídias tradicionais.
“Ao tratar o marketing de influência como um veículo de mídia estamos destruindo o que ele tem de mais poderoso”
Ana Paula Passarelli
Neste artigo, Passa conta que um empreendedor pediu para que ela avaliasse a startup que estava lançando. Ela diz que, de tudo que viu, o ponto mais sensível era uma frase na página inicial que dizia "monetize sua audiência".
“A frase por si só é um jogo de palavras que o velho capitalismo impõe, mas que dá o tom sobre como o aquecido marketing de influência vem sendo tratado: um mero canal de mídia a serviço da monetização das pessoas.”
💎Achados
Essa dica de escrita que vi traduzida em um post do João Victor Fiorot, no Linkedin.
Essa reflexão sobre se sentir muito mais inteligente na sua língua nativa. Eu trabalho 99% do meu tempo em inglês há alguns anos e mesmo que eu fale fluentemente ainda não me sinto como eu mesma em outro idioma.
Tradução: “Você sabe o quão frustrando é ter que traduzir tudo na minha cabeça antes de dizer?” / “Você sequer imagina o quão inteligente eu sou em espanhol?”
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