É você que usa as redes sociais ou são elas que usam você? | 💌 Desculpa o Flood #3
Adam Mosseri, diretor do Instagram, andou justificando as mudanças no aplicativo como consequência do comportamento do usuário. Será que nós estamos fazendo as redes sociais mudarem ou é o contrário?
Há algumas semanas, a internet estava o maior kikiki porque ninguém aguenta mais o Instagram tentando virar o Tik Tok.
Esse é o modus operandi do grupinho de empresas do Facebook, agora representadas como Meta. Se surge uma possível concorrente, eles compram. Se não conseguem comprar, eles copiam. Historicamente, essa estratégia vinha funcionando muito bem para eles. RIP Snapchat.
Só que não mais.
Veja bem, o TikTok foi o aplicativo mais baixado do mundo no 1º trimestre de 2022 na loja da Apple e do Google. Foram 175 milhões de downloads, segundo dados do relatório mais recente da Sensor Tower. De acordo com esse mesmo relatório, nenhum aplicativo foi mais baixado no mundo do que o TikTok desde o início de 2018, nem mesmo o Whatsapp.
Isso porque eu não vou nem falar de tempo de uso. Só para você ter uma ideia, em 2022, a ByteDance, dona do Tik Tok, disse ter alcançado 1 bilhão de usuários ativos por mês.
Com a concorrência, a Meta começou a fazer diversas mudanças no Instagram. Atualizou o aplicativo para um formato em tela cheia. Passou a priorizar conteúdo de criadores e vídeos ao invés de amigos e fotos. O que desagradou uma galera, que passou a ver posts aleatórios de gente que não seguia e um monte de vídeos no feed.
“O antigo Instagram cheio de amigos está sendo substituído por um clone do TikTok cheio de estranhos”.
Cordilia James e Maddie Ellis, Wall Street Journal
Aí depois do que era para ser só um post despretensioso expressando sua frustração com as mudanças no feed, a modelo Tati Bruening acabou criando um movimento: Make Instagram, Instagram again. Um pedido pela volta do Instagram às suas origens, quando priorizava fotos e amigos, apoiado por várias celebridades, como Kim Kardashian e Kyle Jenner.
Com o circo armado, Adam Mosseri, diretor do Instagram, veio à público dar explicação pra galera. Mais de uma vez.

O que me chamou a atenção em todas as vezes em que ele resolveu falar é como tem tratado as atualizações como uma consequência do comportamento do usuário.
“As pessoas querem ver mais conteúdo de amigos no feed, mas todo o crescimento de fotos e vídeos tem sido nos stories e DMs”.
A bem da verdade, o que ele está dizendo é: nós só estamos mudando porque os dados nos provam que vocês não se comportam mais assim, vocês não interagem com fotos de amigos e família.
É quase um: “galera, não mete essa”.
O que deveria surpreender um total de 0 pessoas. Afinal, “data is the new oil” não é mesmo?
Desde que o Economist levantou essa bola lá em 2017, o tema ganhou grande repercussão e foi pauta de muitas discussões.
Quem é da área de marketing, de vendas ou de negócios com certeza já ouviu falar que as decisões mais do que nunca precisam ser “data-driven”, orientadas pelos dados.
Esses dados nada mais são que informações sobre você: como se comporta, o que prefere consumir, onde clica, o que assiste, por quanto tempo para que as empresas possam adaptar suas estratégias de marketing e vendas e te fazer comprar produtos e serviços com mais facilidade.
Na era da criação de conteúdo, isso também se aplica aos criadores que passam a se adaptar àquilo que sua audiência parece gostar. E acabam se perdendo de si no caminho. Vamos falar mais desse recorte na próxima edição, semana que vem.
No livro “O Poder do Hábito”, Charles Duhigg mostra como a Target, por exemplo, sabia quais clientes estavam grávidas com base em seus padrões de compra. Assim, passava a fornecer cupons de desconto para produtos que elas provavelmente iriam comprar. Empresas como a Procter & Gamble, Starbucks, Alcoa também já tiraram proveito das informações para influenciar o jeito como as pessoas fazem compras.
Isso também é usado, de um jeito muito perturbador, para política. O filme Privacidade Hackeada traz essa questão desenhada. É excelente.
Pensando nisso, pergunto para você e para o nosso amigo Adam:
Mudamos a forma de usar o Instagram porque surgiu a DM, porque foram implementados os stories, porque agora existe o reels? Ou todos esses recursos surgiram como uma demanda do nosso comportamento?
Essa briga, que parece um “Vingadores: O Ultimato” versão Tik Tok x Instagram, na verdade, tem uma questão central que contempla diversos serviços. A Netflix, por exemplo, mostra uma página inicial com conteúdos diferentes para cada usuário. O Spotify recomenda playlists baseadas no que ele acha que são suas preferências. O Linkedin e o Twitter te mostram publicações com base nas suas curtidas.
Sabe a lista de filmes mais assistidos da Netflix? Sempre me pergunto: tá todo mundo assistindo porque é bom ou tá entre os mais assistidos porque mais pessoas foram influenciadas pelo fato do filme estar recomendado ali?
Na minha cabeça, além de ser mais prático, dá a sensação de que já passou por uma curadoria de várias pessoas e deve ser bom (apesar de no fundo eu saber que não é assim que funciona). Como você faz?
Nenhuma dessas perguntas é retórica. Eu tô realmente curiosa para saber o que você acha. Se quiser contar, é só clicar para responder esse email, escrever no campo de comentários ou para oi@laurafreitas.com.br.
Pensar sobre isso me faz ir um pouco mais longe. As “conversas do momento” nas redes sociais muitas vezes são definidas por perfis que agem coordenadamente (ainda que eles neguem) e lucram a partir delas. É o caso da Banca Digital, responsável pelo agenciamento de 35 perfis que atingem mais de 75 milhões de seguidores.
Esta análise do Núcleo, mostra como “Bloco de perfis de fofoca lucra com publis e pauta a internet” e como páginas de entretenimento são as que mais compartilham desinformação.
“Páginas de entretenimento acumularam 188 mil interações em posts que usam imagens falsamente atribuídas à disputa na Ucrânia. O volume representa 46% do engajamento de toda a desinformação sobre a guerra checada pelo Aos Fatos na plataforma”.
Ainda existe alguma coisa de fato orgânica em como nos comportamos online? Nos assuntos que parecem nos interessar? É sequer possível dizer que nosso comportamento, nosso gostos e preferências influenciam de verdade qualquer coisa ou estão sendo constantemente influenciados e até manipulados por inteligência artificial? Somos apenas fantoches? Estamos ok com isso?
Se nada tivesse mudado no Instagram, teríamos perdido o interesse? Teríamos todos migrado para outros aplicativos? Ou continuaríamos consumindo como antes, na ausência de outros recursos?
Talvez a gente descubra muito em breve, já que a dona do Tik Tok vai lançar um app para concorrer com o antigo Instagram.
Em um mundo orientado por dados, escutar a voz das pessoas me parece muito poderoso, ainda que “só” como mensagem.
Curiosa para descobrir, na prática, o que vai se provar mais efetivo e se: é você que usa as redes sociais ou são elas que usam você.
💡 Imagina que louco…
Essa pira foi inspirada na série Locke & Key, disponível na Netflix, e pode conter spoiler.
Se você pudesse entrar literalmente dentro da sua cabeça? Se existisse uma chave, que abrisse a porta para o seu cérebro e desse acesso às suas memórias?
Com a chave, qualquer um poderia passar pela porta, não só você. A porta toma uma forma de acordo com sua personalidade. Por exemplo, a porta da cabeça do pequeno Bode, um dos personagens principais da série Locke & Key, é um baú de brinquedos. A da Kinsey uma porta giratória de Shopping, da Eden uma bolsa de maquiagem.
A parte de dentro da sua cabeça também tomaria os contornos da sua personalidade. Os pensamentos do Bode estão em um parque de diversões. Da Kinsey dentro de várias lojas, em andares de um Shopping Center. Da Eden de uma loja de cosméticos.
Como seria dentro da sua cabeça? Como seus pensamentos tomariam forma?
A minha seria igual à Times Square, cheia de luzes, trânsito, informação visual, luzes piscando, bem caótica. Me responde como seria a sua por e-mail? Manda imagem também se quiser!
📹 O poder de virar a lente para o outro
É impressionante o crescimento do número de seguidores e engajamento nas redes sociais do Brian, do @isthisreal. Depois do lançamento da série “Retratos Desconhecidos” seu número de seguidores mais do que triplicou em 3 meses. Ele foi de 250 mil seguidores para 950mil no Instagram. De Junho para Agosto.
No Tik Tok, foi de 165 mil seguidores em junho para 1.2 milhões hoje.
É impressionante!
Não à toa, seu trabalho está chamando a atenção. Brian é talentosíssimo, as fotos são lindas. Ele também passou a contar um pouco da história das pessoas fotografadas, dando um olhar ainda mais sensível para o projeto.
É um lembrete de continuar tentando e um exemplo de conteúdo que todo mundo deveria ver, independente de algoritmo.
A internet tem uma infinidade de conteúdo que você nunca vai conseguir consumir. Obrigada por ter escolhido estar aqui e desculpa o flood :)
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