Precisamos que a internet se cale | 💌 Desculpa o Flood #12
Agora, você também consegue ouvir esta news e me VER em vídeo no Spotify!
O fim do ano parece que aumenta minha FOMO, o medo de estar perdendo alguma coisa. A sensação de que deveria estar fazendo algo que não estou - uma retrospectiva ou um post de coisas que aprendi.
Aumenta a sensação de que não estou sabendo de algum assunto muito em alta nas redes sociais - a Beyonce tá no Brasil? Vai ter show? Mas não estava certo que ela não vinha?
Você também sente que esse período aumenta o ruído, a quantidade de assuntos, de informação? Ou é só a gente que está com mais tempo livre?
Comecei a escrever um texto sobre cansaço para ser o último do ano desta news. Mas fiquei cansada demais para terminar e publicar.
Parece que cansaço foi a palavra de 2023. Especialmente para mulheres.
Esgotadas. É o nome de uma pesquisa da Think Olga, que mostra que só no Brasil, 7 em cada 10 pessoas diagnosticadas com depressão e ansiedade eram mulheres.
Estresse. Irritabilidade. Sonolência. Fadiga. Baixa autoestima. Insônia. Tristeza. São sintomas experienciados por elas cotidianamente.
Foi tema do ENEM 2023: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Trabalho de cuidado, invisibilidade, desafios, enfrentamento. É sobre cansaço. Essencialmente sobre um dos grandes motivos porque nós mulheres estamos exaustas.
O livro “O despertar da mulher exausta”, de Marcela Ceribelli, CEO da Obvious, é finalista do Prêmio Jabuti 2023. Como falamos de #booktok na última edição, vale mencionar: tem 5.360 visualizações em vídeos sobre ele no TikTok.
No Google, em uma escala de 0 a 100, o termo “cansaço” se manteve sempre acima de 60 em interesse durante todo o período.
Já exploramos a origem do cansaço em várias edições dessa news, como em “Por que insistimos em transformar a vida em uma coisa útil?”, e também maneiras para contornar esse sentimento em “Overdose digital e Joy of Missing Out (ou prazer em ficar de fora)”.
Acontece que nesta ordem econômica em que nossa atenção é a principal moeda, todos estão tentando conquistá-la. Sem prestar atenção, consciente, aonde a depositamos, vamos deixando nossos centavos a cada passo e, no fim do dia, terminamos sem nada. Esgotadas.
O filósofo e ensaísta Byung Chu-Han diz que o mundo está se dissolvendo em um mundo de informação, de não-coisas.
“Precisamos que a informação se cale. Caso contrário, explorará nosso cérebro. Hoje entendemos o mundo através das informações. Assim a vivência presencial se perde. Nós nos desconectamos do mundo de modo crescente. Vamos perdendo o mundo. O mundo é mais do que a informação. A tela é uma representação pobre do mundo. Giramos em círculo ao redor de nós mesmos. O smartphone contribui decisivamente a essa percepção pobre de mundo. Um sintoma fundamental da depressão é a ausência de mundo.”
Byung Chu-Han, em entrevista para o El País
Em meio a tanto ruído, slow content e consumo com intencionalidade são conceitos que crescem.
No mercado de criação, já se fala em era da pós-influência.
Porque se as redes sociais tem consequências amplamente discutidas para a saúde mental do público geral, para os criadores e influenciadores digitais o buraco é ainda mais embaixo. Eles estão à beira do colapso, reféns de um chefe invisível, que não dá feedback e muda as regras do jogo à sua própria vontade. Um algoritmo que pune.
Os influenciadores têm um novo grande sonho: se retirar da internet, bem a la Jout Jout.
Mas esse é assunto para a próxima edição.
Você também esta cansado?
Em meio ao turbilhão de informações que nos submergem, o que valeu tanto minha atenção que compartilhei com alguém por mensagem privada (DM).
Esta é uma sessão que geralmente compartilho apenas na edição extra da newsletter para assinantes. Mas gostaria de te mostrar um pedacinho da curadoria que você vai receber se apoiar o meu trabalho. Considera fazer um upgrade da sua inscrição e assinar.
📩 DM
Programa de Proteção à Carreira Artística
Este curta da Manu Gavassi que faz uma crítica criativa à indústria musical e muito da lógica do digital. Ele faz parte de um projeto audiovisual da cantora que será composto por três curtas e três musicas.
Você não precisa saber quem é Manu Gavassi e pode nunca nem ter ouvido uma música dela para concordar que isso daqui é um belíssimo exemplo de como construir uma narrativa envolvente - ou storytelling, pra quem adora um terminho em inglês.
Mango Tree
Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus”, faz até Martin Scorsese sentir o poder da palavra ao explicar porque gosta de dirigir produções em português e não tem vontade de se mudar para os Estados Unidos.
Nã há coincidência, é tudo intencional
Provavelmente todo mundo que circula no meio publicitário ficou que sabendo que a Bauducco foi acausada de plagiar “AmarElo” de Emicida em sua campanha de reposicionamento.
O que muita gente pode não saber é que esse não foi a única vez que a marca subjugou a inteligência das pessoas e isso tem impacto relevante em termos de percepção de marca e eu posso apostar que, consequentemente, em vendas.
A Bia, da Bits do Brands, fala em um dos seus workshops que
“Posicionamento de marca (branding) é como uma marca comunica seu valor único, criando um contexto que o seu público vai entender e pertencer (…). É o processo constante de construção de valor em todos os pontos de contato.”
Além disso, não se engane, o design serve a uma mensagem sempre. É ingênuo achar que os elementos são distribuídos de forma aleatória, que as imagens são escolhidos ao acaso. No ponto de contato mais relevante com o consumidor, a marca escolheu intencionalmente uma imagem para que seu cérebro faça uma associação que não corresponde à realidade (que o produto vem recheado), porque sabia que iria vender mais.
Passe um cafézinho, leia os comentários e volte para me contar se não é intencional.
Obrigada por ler até aqui e desculpa o flood.
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