Overdose digital e Joy of Missing Out (ou prazer em ficar de fora) | 💌 Desculpa o Flood #6
4 mil semanas. É quanto nossa vida dura, em média. Provavelmente é melhor escolher como gastar seu tempo do que passá-lo com medo de estar perdendo alguma coisa e pensando no que poderia ter sido.
Outro dia meu marido me perguntou se eu tinha visto a torre do Alok. Eu fiz cara de quem não tinha ideia do que ele estava falando. “Não passou no seu Tik Tok?”, ele perguntou. E eu contei que estava fazendo um exercício de escolher mais intencionalmente o que consumo de conteúdo.
Parece que o Alok ergueu uma torre de sei lá quantos metros, que vai dar para ser vista por sei lá quantas pessoas, para um show sei lá quando, que parece que vai ser “o show do século”.
Em um ano de Taylor Swift e Beyoncé? Acho difícil. Mas é aquilo, né. A autoestima.
A propósito, vi diversos posts lamentando que a Beyoncé não vem para o Brasil. Achei que o show tinha sido cancelado, mas na pesquisa para essa news descobri que, na verdade, ela nunca disse que vinha.
Continuando no tema da nossa última edição: amanhã o assunto já é outro.
Show da Beyonce, Taylor Swift, RBD. Copa do mundo. Filme da Barbie. Daqui a pouco vem BBB, carnaval, Jogos Olímpicos, eleições de novo. Esses foram só os que eu lembrei de bate pronto.
É tanto assunto que você “não pode perder”, que FOMO está sendo descrita como síndrome e ganhando contornos de patologia.
"Levou 50 anos para o telefone chegar a um público de massa. O celular chegou a uma audiência mundial em sete anos. As redes sociais decolaram em três anos. Agora, vemos grandes mudanças na tecnologia em um ano."
Raymond Kurzweil, cientista futurista no filme “Quanto Tempo o Tempo Tem”
Vivemos na Economia da Atenção. Era da Informação.Era da Dissociação. Soube da existência dessa última em um post das Donas da P* Toda essa semana. Estavam divulgando o episódio #192 do podcast delas “Estamos avoadas, distraídas, sem foco: veio aí a era da dissociação?”. Parece interessantíssimo. Adicionei na fila para ouvir depois e até agora não tive tempo.
O que está acontecendo com nosso tempo?
“Hoje temos à nossa disposição uma infinidade de máquinas, que nos ajudam a administrar melhor nosso tempo. Temos as máquinas de poupar tempo, como o telefone, o avião, carro. Temos as máquinas de enriquecer o tempo, rádio, videogames, DVD players. Temos ainda as máquinas de estocar o tempo, como o computador, CDs, secretária eletrônica. Temos também as máquinas de programar o tempo, despertadores, cronômetros e agendas eletrônicas. E mesmo assim continuamos em estado de alerta, esperando sempre pela próxima urgência.”
Adriana Dutra, no filme “Quanto Tempo o Tempo Tem”
Como uma forma de reação a esse “Fear of Missing Out”, o medo de ficar de fora a que a sigla FOMO corresponde, Christina Crook propõe uma forma de encontrar equilíbrio em um mundo conectado.
Christina é autora do livro “Joy of Missing Out”, o prazer de ficar de fora, que acabou virando um movimento no sentido contrário da FOMO.
Ela explora como tecnologia, relacionamentos e alegria estão conectadas e propõe formas de diminuir a ansiedade que vem com a sensação de estar perdendo algo incrível. A primeira delas é:
Autorize-se a se manter alheio.
“Sabe a torre do Alok?” Não sei. “O show da Taylor Swift?” Não faço ideia. “Tá triste que a Beyoncé não vem para o Brasil?” Ela cancelou?
Gostoso demaaaaaaaaaaaais! Não sei, não vi, tô por fora.
Christina fala sobre como estamos atingindo uma overdose digital e incentiva as pessoas a encontrarem alegria em perder as coisas, a parar de rolar o feed eternamente e perder tempo discutindo, por exemplo, o transplante de coração do Faustão.
Os Trending Topics no Twitter (X) nesse exato momento, 29.8, às 1:15 da manhã, são:
Todos eles, com exceção do 4, são sobre uma traição de MC Cabelinho a sua namorada Bella. Toda semana um homem está nos assuntos do momento por causa de traição. Às vezes o mesmo homem.
O 4, sobre o Kanye West, vou me poupar de explicar e só deixar esse Tweet aqui:
JOMO é mais que o oposto de FOMO, é também repensar o significado e redefinir a palavra ‘sucesso’. “É chutar o esgotamento, o estresse e os arrependimentos; é apurar nossos valores para que possamos prosperar online”.
Oliver Burkeman, jornalista e autor com diversos livros e artigos publicados sobre gerenciamento de tempo, nos lembra que, como criaturas finitas, sempre perderemos algo. Diz também que o fato de estarmos perdendo outras coisas é o que torna o que estamos fazendo significativo.
“Voltar à realidade, desafiando as pressões culturais para tentar o impossível e, em vez disso, começar com o que é possível. É sobre fazer o que é realmente significativo em nosso trabalho e em nossas vidas, no entendimento claro de que não haverá tempo para tudo, e que nunca eliminaremos as incertezas.
Quatro mil semanas: Gestão de tempo para mortais, de Oliver Burkeman
Tem um outro livro, um dos meus preferidos do ano até agora, em que uma mulher tem a oportunidade de viver todos os “e se” da vida dela. Cheia de talentos e poucas conquistas, ela vive se perguntando o que poderia ter acontecido se tivesse vivido de maneira diferente.
Arrependida das escolhas que fez no passado, vê pouco sentido em sua existência e decide colocar um ponto final em tudo. Porém, ela é “transportada” para uma biblioteca onde ganha uma oportunidade única de viver todas as vidas que poderia ter vivido.
O livro é A Biblioteca da Meia-Noite, de Mat Haig, best-seller na Amazon. Esse autor fala de maneira muito sensível dos infinitos rumos que a vida pode tomar e da busca incessante pelo rumo certo.
Ele aborda de maneira bastante lúdica o que Oliver explica quando fala sobre gestão de tempo:
“O desafio central da gestão do tempo não é se tornar mais eficiente, mas decidir o que negligenciar; por que, em um mundo acelerado, a paciência ― deixar as coisas levarem o tempo que levam ― é um superpoder”
4 mil semanas. É quanto nossa vida dura, em média. Provavelmente é melhor aceitar sua limitação e escolher como gastar seu tempo do que passá-lo com medo de estar perdendo alguma coisa e pensando no que poderia ter sido.
A internet tem uma infinidade de conteúdo que você nunca vai conseguir consumir. Obrigada por ler até o final e desculpa o flood :)
Onde mais eu tô pela internet: blog | instagram | youtube | tik tok | linkedinho
📚 Todos os livros indicados ou citados nessa news estão reunidos em uma biblioteca para chamar de nossa. Só clicar aqui.
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Gostei bastante do artigo e super me identifiquei.
Tem tanta coisa acontecendo na internet, toda hora aparece algum artista, cantor ou pessoa nova que eu nem faço ideia de quem seja. Músicas que nunca ouvi. Não assisto BBB então fico por fora dos assuntos nas rodas de amigos. E sabe de uma coisa, eu tô bem assim. Já tenho coisa demais na minha mente pra adicionar mais inutilidades. Kkkk
Adorei que existe um termo pra isso Joy of Missing Out. E sinceramente, muitas vezes me sinto intelectual por não estar por dentro de todas as bobagens da internet.
Amei o jeito que você consegue trazer essas reflexões.
E fiquei interessada pelo livro que você comentou. Já coloquei aqui na minha lista.
Obrigada pelo ótimo conteúdo de leitura.
Beijos.